É complicado não pensar na vida como uma grande coincidência, mesmo para os mais cegos ímpios.
Eu gosto de pensar que pessoas, coisas, lugares e até mesmo o tempo é que desenvolvem o papel de me estremar. Nesta perspectiva, eu consigo entender porque dentro de uma livraria com mais de 3.000 livros, eu consegui escolher o livro de Daniel Souza e de Gilmar Chaves.
A capa azul e salmão, as páginas pálidas, amareladas de velhas, algumas até rasgadas e o preço barganhado pela senhora minha mãe, não correspondem, de fato, as 191 páginas de emoção que o livro traz. Eu devorei o livro em um dia, e olha que tem muito tempo que minha cabeça não largava Gilmar Mendes, Hely Lopes, Cavalieri Filho, Rogério Greco e companhia, para uma literatura sem artigos e princípios legais. O livro começa com uma citação de um homem que eu passei a ter uma profunda admiração, Oscar Niemeyer, isso talvez tenha chamado minha atenção para a compra do livro, após esta maravilhosa apresentação, encontramos, como a própria capa do livro diz, 34 depoimentos de personalidades sobre a resistência à ditadura militar. Tá, eu sei o que você está pensando, DITADURA MILITAR? FILME DA GLOBO, DOCUMENTÁRIO DA GLOBO, NOVELA DA GLOBO, MINISSÉRIE DA GLOBO... Livros, mídia, propaganda, revistas e matérias no Discovery Channel, resumindo o seu pensamento, é claro. Mas sinceramente, eu posso dizer que não, não pensei em nada disso quando eu li o livro.
O segundo depoimento foi talvez o mais marcante para mim, Adilio Athos, que a nível de conhecimento (google), não passa de um "personagem" deste livro, é a primeira referência que aparece. Logo em seguida, o que me deixou confusa, aparece este mesmo nome como uma pessoa responsável de um cenário em uma peça de teatro. Como o nome é bem incomum, acredito que seja a mesma pessoa, ou espero que seja. Adilio Athos é talvez ainda um ponto de interrogação para mim, porque em seu depoimento ele não narrou quem de fato ele era, ou sua verdadeira história e caminhada, narrou de forma linda e em poesia sua trajetória até o fim de sua tortura. De forma brilhante e com rimas ricas, a passagem se torna emocionante em cada estrofe, não pela forma apenas, mas por trocadilhos, irônias e tudo muito bem elaborado. E eu não sei como Adilio Athos era fisicamente, mas de fato a minha imaginação construiu um homem alto, branco, magro, com um nariz grande, olhos claros e um ar de alegria eterna.
O livro conta com algumas figurinhas douradas da história brasileira como Luiz Carlos Prestes Filho, Regina Sodré e Jean Marc Von Der Weid, Pedro Viegas, Fernando Gabeira...
Além da crítica massante a Lei da Anistia de 79, os depoimentos tornam não somente o sofrimento destas pessoas de forma clara, como o vazio que ficou a vida e o pensamento com a geração perdida.
Não quero fazer apologia à educação, à luta por ideais ou talvez dar uma nova crença a nossa pátria, a história ensina que nacionalismo bom, é nacionalismo modesto. O que eu quero é divulgar a obra desta dupla dinâmica, que merece um novo olhar sobre este tema tão comum entre as provas de vestibular e tão incomum na mesa de jantar.
ps: Billie Holiday teve que me desculpar, tive que escolher entre sua coletânea e o livro.
"A casta vestida de verde dizia que eu estava livre, com tutela vigiada.
Pra não me perderem de vista, virei carta marcada.
Anistia, para quem não sabe, é pecado perdoado.
Pequei por ser contra um regime cruel e malvado.
Essa coisa chamada de anistia foi feita em prol da direita e dos senhores da vilania.
Onde estão os meus direitos, que até hoje procuro?
Quanto mais eu peço luz, mais fico no escuro..."
Adilio Athos
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OLÁ !!! NÃO SEI SE VC TEVI A INESPLICAVEL EXPERIENCIA DE CONHECER ADILIO ATHOS, MAS EU O CONHEÇO E LHE DIGO QUE DA GRANDEZA DESDE HOMEM VC NÃO VIU QUASE NADA, ADILIO É UM MISTO DE SABEDORIA E POSIA .... SE QUISER POSSO LHE APRESENTAR ESTE FIGURA PEQUENA,BRANCA,OLHOS ESCUROS, VOZ CALMA, E MUITO CARISMA...
ResponderExcluirENTRE EM CONTATO..
cristina.eccellenza@hotmail.com
CRISTINA SOARES