Tão negado pela madame que não gostava de ver seus velhos
escravos e escravas livres cantarolando pelas avenidas da Bahia, posteriormente as
do Rio de Janeiro, o samba que era pecador hoje tem espaço até para as
variações religiosas.
Virou samba de breque, virou samba-canção, virou bossa nova,
virou samba-rock, virou pagode e virou tanta coisa que me pergunto: o samba que
é bom ainda é samba?
O samba enriqueceu e se tornou o mestre sala da cultura
nacional brasileira e com a riqueza, infelizmente, também se embranqueceu o
rosto de quem faz o samba.
Que Cartola, Candeia, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Bezerra
da Silva, Clementina de Jesus, Tia Ciata, Jovelina Pérola
Negra e tantos e tantas que representaram e representam tão bem o nosso samba
não me leiam ou me escutem murmurar isto que aqui vos falo e que ando
lamuriando pelos cantos há tempos: EMBRANQUECERAM O NOSSO SAMBA!
É difícil pensar que uma sociedade ex escravocrata e estruturalmente
racista aceitaria um protagonismo negro em qualquer que fosse o espaço, imagine
então no tão elitizado espaço musical. E não é de hoje que conhecemos bem es
te
embranquecimento no meio da música, basta olharmos para o nosso tão clamado e
lindo Chorinho, hoje tão embranquecido e tão elitizado que mal conseguimos
lembrar a origem e a influência de um dos maiores nomes brasileiros da música,
Pixinguinha, que é pincelado em alguns bares, mas que concentra cheques altos
pelas orquestras sinfônicas formadas por sua maioria de brancos e brancas para
brancos e brancas.
A consequência deste embranquecimento se vê nas esquinas dos
bairros nobres, onde, em sua maioria, se tocam músicas compostas por negrxs que
não podem se quer frequentar aquele espaço ou se quer foram convidados para que
ali pudessem apresentar o que é de sua autoria. Vemos também no Carnaval, não nos
esqueçamos do carnaval, uma aglomeração de pessoas que pagam um valor
exorbitante para ver o desfile de um trabalho feito por uma comunidade que a
própria tem que assistir na televisão.
Contudo, não se enganem o samba, assim como toda a cultura
negra, RESISTI!
Resisti entre becos e vielas e entre os morros e favelas que
dali nasceu e dali não morrerá jamais. Resisti como em suas origens: cadenciado,
ritmado, apreensivo e provocador. Os
sambas de Madureira e de Oswaldo Cruz resistem como a Tia Surica e a sua
feijoada resistem. Samba que é samba resisti como resisti o Samba do
Trabalhador ali na Renascença. O Cacique de Ramos resisti há 53 anos. O samba
resisti fora do mercado do samba, fora da rede televisiva, fora do patrocínio e
fora da grande mídia.
Por mais pó branco que coloquem em nossos mestres salas e em nossas ritmistas,
o samba é cultura negra assim como o seu protagonismo. E se hoje querem
embranquecer ,mais um vez, para apagar o mérito criativo e visionário dos
negros e negras e da cultura Africana, que irradiou todas as esferas culturais
deste país, eu digo:
- O SAMBA RESISTI!
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