quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O samba resisti!

Tão negado pela madame que não gostava de ver seus velhos escravos e escravas livres cantarolando pelas avenidas da Bahia, posteriormente as do Rio de Janeiro, o samba que era pecador hoje tem espaço até para as variações religiosas. 

Virou samba de breque, virou samba-canção, virou bossa nova, virou samba-rock, virou pagode e virou tanta coisa que me pergunto: o samba que é bom ainda é samba?

O samba enriqueceu e se tornou o mestre sala da cultura nacional brasileira e com a riqueza, infelizmente, também se embranqueceu o rosto de quem faz o samba.

Que Cartola, Candeia, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Bezerra da Silva, Clementina de Jesus, Tia Ciata, Jovelina Pérola Negra e tantos e tantas que representaram e representam tão bem o nosso samba não me leiam ou me escutem murmurar isto que aqui vos falo e que ando lamuriando pelos cantos há tempos: EMBRANQUECERAM O NOSSO SAMBA!

É difícil pensar que uma sociedade ex escravocrata e estruturalmente racista aceitaria um protagonismo negro em qualquer que fosse o espaço, imagine então no tão elitizado espaço musical. E não é de hoje que conhecemos bem es
te embranquecimento no meio da música, basta olharmos para o nosso tão clamado e lindo Chorinho, hoje tão embranquecido e tão elitizado que mal conseguimos lembrar a origem e a influência de um dos maiores nomes brasileiros da música, Pixinguinha, que é pincelado em alguns bares, mas que concentra cheques altos pelas orquestras sinfônicas formadas por sua maioria de brancos e brancas para brancos e brancas.

A consequência deste embranquecimento se vê nas esquinas dos bairros nobres, onde, em sua maioria, se tocam músicas compostas por negrxs que não podem se quer frequentar aquele espaço ou se quer foram convidados para que ali pudessem apresentar o que é de sua autoria. Vemos também no Carnaval, não nos esqueçamos do carnaval, uma aglomeração de pessoas que pagam um valor exorbitante para ver o desfile de um trabalho feito por uma comunidade que a própria tem que assistir na televisão.

Contudo, não se enganem o samba, assim como toda a cultura negra, RESISTI!

Resisti entre becos e vielas e entre os morros e favelas que dali nasceu e dali não morrerá jamais. Resisti como em suas origens: cadenciado, ritmado, apreensivo e provocador.  Os sambas de Madureira e de Oswaldo Cruz resistem como a Tia Surica e a sua feijoada resistem. Samba que é samba resisti como resisti o Samba do Trabalhador ali na Renascença. O Cacique de Ramos resisti há 53 anos. O samba resisti fora do mercado do samba, fora da rede televisiva, fora do patrocínio e fora da grande mídia.

Por mais pó branco que coloquem em nossos mestres salas e em nossas ritmistas, o samba é cultura negra assim como o seu protagonismo. E se hoje querem embranquecer ,mais um vez, para apagar o mérito criativo e visionário dos negros e negras e da cultura Africana, que irradiou todas as esferas culturais deste país, eu digo:

- O SAMBA RESISTI!  

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