domingo, 3 de abril de 2011

Como Van Gogh...


De frente para o espelho. Gordo, careca e frustrado.
Seria um famoso pintor?

Durante anos estudou artes numa faculdade reconhecida, aprendeu diferentes idiomas e conheceu toda influência, que de fato era necessária.

Hoje vende carros usados, numa concessionária sem nome.Acorda todo o dia às 5, mal consegue abrir os olhos e já tem roupa para passar e já tem criança para cuidar...

De frente para o espelho, gordo, careca e frustrado, sua mulher deitada na cama, já com sinais de idade, aquela menina de cabelos longos e de riso largo, agora uma mulher amarga e infeliz, nota parte da barriga que pula. Sussurra:
- Poderia correr, ao menos...

Um silêncio no quarto. Um silêncio. Sem palavras.
Naquele minuto em que a gravata sufoca o resto de dignidade, pensa no que seria o fruto da sua vida vazia. Filhos barulhentos? Mulher insatisfeita? Pneus furados? E o silêncio continua.


Um quadro ficou jogado, entre poeira de quartinho escuro e baratas elétricas. Um quadro que um dia era um sonho, agora o único vestígio de humanidade dentro de uma família.

Chegou no trabalho, pegou um papel, fez um rabisco, pegou uma arma e pintou de sangue a última tela de sua vida. Morreu.

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